quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

UM FILME EXCELENTE PARA AS FAMÍLIAS CRISTÃS

ZP12021801 - 18-02-2012 Permalink: http://www.zenit.org/article-29733?l=portuguese "There Be Dragons (2011) ROMA, sábado, 18 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) -. A história é convincente. No contexto da Guerra Civil Espanhola o jovem Josemaria Escrivá, se forma, cresce e funda o Opus Dei. O diretor e os atores são de grande qualidade e profissionalismo. Indumentárias e roteiro excelentes. O filme There Be Dragons está disponível em DVD em espanhol (ou Inglês), com legendas em italiano. Publicamos abaixo a apreciação do filme feita por Franco Olearo, fundador e animador do site:http://www.familycinematv.it/ Robert é um jornalista responsável por escrever um artigo sobre Josemaria Escrivá, cuja beatificação está próxima. Chegando em Madri, tenta entrar em contato com seu pai Manolo que não tem visto há anos. Este, primeiro relutante, decide contar a sua história para seu filho, que estava intimamente ligada com a de Santo Escrivá: passaram uma juventude feliz juntos, mas depois, a guerra civil separou os seus destinos ... A figura de Santo Escrivá jovem surge com as suas dificuldades humanas mas também com toda a potência da sua fé com a qual consegue afrontar o período negro da Guerra Civil Espanhola e dar serenidade e esperança àqueles que estão ao seu redor. A habilidade do diretor Ronad Joffé consegue manter alto o interesse em toda a narração de uma história rica e densa de conteúdo. O co-protagonista Manolo, um personagem fictício, aparece pouco convincente, como uma figura mais ideal do que humana. Roland Joffe é um autor que se faz perguntas e procura respostas. Fá-lo por meio dos protagonistas dos seus filmes mais significativos, que se encontram envolvidos em situações de conflito realmente acontecidas no passado próximo ou remoto; nesse contexto eles procuram compreender, muitas vezes de modo perturbado, o que é certo ou o que é errado fazer. Em algumas de suas obras os personagens principais são dois, para testemunhar uma maneira diferente de reagir aos acontecimentos. Na Missão (1986), o padre jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) e o aventureiro Rodrigo Mendoza (Robert De Niro) respondem de modo diferente à injusta imposição de remover a “sagrada experiência” realizada, feita no sinal do Evangelho, entre os índios Guarani e se Rodrigo pega as armas para lutar contra a ofensiva das tropas portuguesas, o Padre Gabriel organiza uma procissão com o Santíssimo Sacramento, seguido por mulheres e crianças. No Grito no Silêncio (1984) que tem como cenário Camboja e as atrocidades dos Khmer Vermelhos, Sidney, um jornalista americano (Sam Waterston) decide voltar para casa, enquanto seu companheiro cambojiano Pran escolhe ficar. Sidney não tem paz por ter podido salvar a si mesmo, mas não o seu amigo e começa uma longa busca na tentativa de trazê-lo de novo à pátria. Mais uma vez, em There Be Dragons (Encontrarás Dragões), Joffe leva o espectador para o interior de um conflito (o filme acontece principalmente durante a Guerra Civil Espanhola) e mais uma vez os protagonistas se perguntam, diante de um drama que divide as famílias e dilacera as consciências, qual é a melhor forma de se comportar? Neste último trabalho a abordagem é diferente dos filmes anteriores: a resposta não se refere ao senso comum, à consciência do indivíduo, mas Roland Joffé encontrou as respostas que estava procurando em um contexto mais amplo: nos ensinamentos e no exemplo de São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei. Ao mesmo tempo, como nos seus filmes anteriores, coloca ao lado de Josemaria um personagem de contraste, Manolo, um amigo de infância imaginário que logo escolhe caminhos diferentes: na sua alma atormentada se concentra o espírito de vingança, ciúme e cinismo daqueles que não encontram sentido na vida se não buscam lucro pessoal. Em 1936, Josemaría tinha 34 anos e Joffre se limita somente a traçar breves quadros das peripécias deste jovem sacerdote e dos seus primeiros seguidores (a difícil vida numa Madri sob a ameaça dos ataques dos republicanos, a primeira aprovação do Opus Dei, a longa marcha através dos Pirenéus para ir para a zona nacionalista), mas ainda se considerando um agnóstico, o autor compreendeu muito bem a fé que sustentou JoseMaria naqueles anos e à medida que a história avança, cresce em profundidade até abraçar temas universais: o significado do perdão, o poder dilacerante do ódio e da vingança, o sentido do mal que atinge também os inocentes, os sinais com os quais acolher a providência divina, o diálogo entre diferentes religiões, a vocação sacerdotal, a vocação à santidade dos leigos. O filme aborda todas essas questões sem tentar propor, como muitas vezes acontece em muitos filmes contemporâneos, uma sabedoria, humana filosofia de vida, mas coloca no centro do problema a relação entre o homem e Deus e vai buscar diretamente o senso sobrenatural com que devem ser abordados os grandes momentos da história nas pequenas escolhas diárias. Em uma sequência dramática, diante da violência que atinge sacerdotes e pessoas inocentes na Madri de 1936, os jovens que acompanham Escrivá vêem a necessidade de reagir, armando-se e organizando-se numa espécie de cruzada. Josemaria lembra-lhes que a revolução que realiza um cristão é antes de mais nada aquela interior: não é possível existir ódio entre nós porque somos todos filhos de Deus, também os nossos inimigos; é necessário sermos pacificadores e orar por aqueles que estão errados. Outro tema que percorre todo o filme é o do perdão: é lembrado pelo diretor do seminário, após uma briga que envolve Josemaría e Manolo: " A negação do perdão é a única coisa que não nos será perdoada". É o perdão que une no final do filme Manolo com seu filho no seu leito de morte, depois de anos de indiferença recíproca e o une idealmente também a Josemaria (que morreu anos antes), e que nunca tinha deixado de rezar por ele e de escrever-lhe regularmente. O silêncio de Deus, o sentido incomensurável da dor que afeta também os inocentes é abordado várias vezes em circunstâncias diferentes do filme: de Josemaría criança, que após a morte da sua terceira irmãzinha, pergunta à sua mãe se ela já começou a odiar a Deus; da garota que foi violentada e que se pergunta se Deus não é um monstro, mas que depois decide responder com mais amor e mais oração. Mas é a babá de Josemaria (a simpática Geraldine Chaplin), que tenta compreender o sentido da providência divina: "A vida é como um fio de um desses bordados, que são tecidos com outros fios que permanecem juntos no espaço e no tempo. É difícil intuir a figura que Deus está bordando antes dele terminar o bordado." Joffe pega esta, como também outras frases da rica biografia do Santo Escrivá, mas as reelabora criativamente dentro da sua construção, permitindo-se também alguma variação compreensível: o pai de Josemaria era um comerciante têxtil, mas no filme se torna proprietário de uma fábrica de chocolate: desta forma, a transformação de um grão numa preciosa barra de chocolate, graças à habilidade e ao trabalho duro dos trabalhadores, torna-se a metáfora de um caminho de santificação por meio do trabalho bem feito na vida cotidiana. É graças ao conhecimento profundo que Joffe atingiu da figura do santo e da interpretação bem-sucedida de Carlies Cox que o personagem Josemaria chega a ser particularmente bem sucedido; não podemos dizer o mesmo de Manolo, personagem construído na imaginação, do qual esperávamos não a idealização do mal no estado puro, mas um personagem com traços mais humanos. O filme tem duas horas de duração, mas a capacidade de Joffé de trabalhar entre passado e presente, com várias histórias paralela consegue manter alta a atenção do espectador até o fim, mesmo se o seu conteúdo seja tão denso e que seja fácil chegar a sentir a necessidade de vê-lo uma segunda vez. O filme foi distribuído na Espanha, Estados Unidos e América Latina e está disponível em DVD em espanhol (ou Inglês), com legendas em italiano. * Título Original: There Be Dragons País: Espanha, Argentina Ano: 2011 Diretor: Roland Joffé Roteiro: Roland Joffé Produção: Antena 3 Films, o Monte Santa Fe Duração: 120 Elenco: Carlies Cox, Wes Bentley, Olga Kurylenko, Geraldine Chaplin, Dougray Scott, Rodrigo Santoro * Para adquirir o DVD, você pode clicar no link a seguir: http://www.amazon.com/There-Be-Dragons-Charlie-Cox/dp/B005PM1188?tag=zenilmonvisda-21 [Tradução Thácio Siqueira]

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Livro aponta Rousseau como totalitário e Marx como plagiário

Euler de França Belém O polemista inglês Paul Johnson revela a vocação dos intelectuais para a violência, para salvar o mundo e dar conselhos que eles próprios não seguem “Os Intelectuais” (Imago, 417 páginas, tradução de André Luiz Barros da Silva), do historiador e ensaísta inglês Paul Johnson, é, sem dúvida, um livro excepcional, polêmico e devastador “contra” os intelectuais. Johnson demole a reputação de vários “pensadores” e escritores, sem, no entanto, perder de vista a importância de algumas de suas obras. Mas destaca que a maioria pregou a violência e ofereceu conselhos à humanidade, com o objetivo de salvá-la, de colocá-la no “caminho reto”, mas não seguia tais orientações na vida cotidiana. Intelectuais falam em nome do povo, mas poucos o conhecem bem. O filósofo e ensaísta José Guilherme Merquior tem razão ao dizer que o intelectual patropi nunca entendeu o povão porque no lugar de examinar um fato, que o povão é bravo reformista, conclui que é revolucionário. Noutras palavras, confunde-se “desejo” com “realidade”. Johnson começa seu estudo com o suíço Jean-Jacques Rousseau — que considera o primeiro dos intelectuais modernos, um arquétipo para eles e, em vários aspectos, o mais influente entre todos — e depois examina, entre outros, Karl Marx, Ibsen, Tolstói, Hemingway, Brecht, Bertrand Russell, Sartre, Edmund Wilson, George Orwell, Norman Mailer. Rousseau, na opinião de John¬son, “foi o primeiro a combinar as características do Prometeu moderno: a afirmação do direito de rejeitar, em sua totalidade, a ordem vigente; a confiança na capacidade de reformar tal ordem a partir da base de acordo com as regras que ele próprio estabeleceu; a crença de que essa reforma podia ser feita por meio de um processo político; e, não menos importante, o reconhecimento do papel valiosíssimo desempenhado na conduta humana pelo instinto, pela intuição e pela impulsividade”. Johnson sustenta que as “Confissões” (há pelos menos duas edições no Brasil) de Rousseau, embora interessantes, mentem muito. Até os 30 anos, Rousseau levou uma vida fracassada, passando por 13 empregos. A fama só começou aos 39 anos. Depois de 1750 (ele nasceu em 1712 e morreu em 1778, antes da Revolução Francesa), tornou-se, como escritor profissional, protegido da aristocracia. “O Contrato Social” (há boas traduções da L&P e da Companhia das Letras/Penguin) não provocou impacto ao ser publicado. “Quase não foi lido até sua morte e só foi reeditado em 1791. Uma pesquisa feita em 500 livrarias da época mostrou que apenas uma delas possuía uma cópia do livro”, revela Johnson. O cul¬to a Rous¬se¬au começou com seu romance “A Nova Heloísa” e com “E¬mí¬lio”. Rousseau parecia ser o Carlos Lacerda francês. Transformava seus amigos de ontem em ferozes inimigos. Chorão, quando lhe convinha, era profundamente egoísta. Gostava de dizer: “Nasci para ser o maior amigo que jamais existiu”. O que Johnson revela de interessante é que, mesmo Rousseau dizendo amar a humanidade com intensidade, na convivência cotidiana não dava certo com as pessoas. Para ser diferente, o filósofo gostava de usar roupas largas e era cabeludo. “Ele foi o primeiro dos intelectuais cabeludos”. Habilidoso na arte da autopromoção, Rousseau foi o primeiro a perceber que “a maioria das pessoas resiste às ideias, principalmente às novas. No entanto, é fascinada por personagens. Ter uma personalidade extravagante é uma maneira de dourar a pílula e induzir o público a voltar sua atenção para obras que tratam de ideias”. Como muitos intelectuais, tinha mania de perseguição. E isto é, de algum modo, sintoma de que a pessoa se julga muito importante, o centro do universo no qual circula. Uma das coisas que Rousseau (foto) mais gostava de fazer era perambular pelas ruas da periferia exibindo as nádegas para as mulheres. “O prazer descomunal que eu sentia expondo-as diante de seus olhos não pode ser descrito”, confessou. Embora escrevesse sobre como educar as crianças, não gostava de crianças e abandonou seus cinco filhos na porta do Hospital de Crianças Encontradas. Mais grave é a análise que Johnson faz da filosofia política de Rousseau. “O Estado de Rousseau não é apenas autoritário: é também totalitário, uma vez que regula todos os aspectos da atividade humana, inclusive o pensamento. Sub¬me¬tido ao contrato social, o indivíduo seria o¬brigado a ‘se alienar de si, justamente com todos os seus direitos, em prol do conjunto da comunidade’.” Uma análise nada ortodoxa, pois o filósofo é sempre apresentado como democrata e o intelectual que pensou o social. Para avaliá-lo de modo mais adequado deve-se ler “Jean-Jacques Rousseau: A Trans¬parência e o Obstáculo” (Com¬panhia das Letras, 424 páginas, tradução de Maria Lucia Machado), de Jean Starobinski. Fontes omitidas O ensaio mais devastador talvez seja “Karl Marx: gritando maldições colossais”. Depois de ler Johnson, que demole Marx, é preciso consultar pelo menos algumas biografias e estudos mais equilibrados. “Karl Marx — Vida e Pensamento” (Vozes, 525 páginas, tradução de Jaime A. Clasen), de David McLellan, e “Karl Marx” (Record, 404 páginas), de Francis Wheen, são competentes e críticas mas evitam o sensacionalismo típico de Johnson. Uma biografia pequena, mas interessante, é “Karl Marx — O Apanhador de Sinais” (Brasiliense, 126 páginas), de Horácio González. Para entender a grande história de parceria e amizade entre dois intelectuais é fundamental ler “Engel — Comunista de Casaca” (Record, 462 páginas, tradução de Dinah Azevedo), de Tristam Hunt. São biografias simpáticas a Marx, mas esclarecedoras e com certeza ajudarão o leitor a entendê-lo de modo mais nuançado. Johnson às vezes parece exagerado e discutível, não raro é tremendamente idiossincrático, o que, quando se trata de um historiador gabaritado, não é positivo. Vale a pena ler “O Marxismo de Marx” (Arx, 647 páginas), de Raymond Aron. O filósofo francês escreve um livro crítico mas ponderado a respeito do marxismo. A seguir, não vou discutir, pró ou contra, as “teses” de Johnson. Vou expor suas curiosas interpretações. O taurino Karl Marx nasceu a 5 de maio de 1818 numa família judia e morreu em 1883. Era e é considerado um erudito. “Mas num sentido mais profundo, ele não era realmente um ‘scholar’, nem tampouco um cientista. Não estava interessado em achar a verdade, mas em proclamá-la. Havia três elementos constitutivos em Marx: o poeta, o jornalista e o moralista. Cada um deles tinha sua importância. Juntos, e combinados com sua enorme vontade, tornavam-no um escritor e um profeta formidável. Mas não havia nada de científico nele: na verdade, em todos esses aspectos ele era anticientífico.” Trecho de um poema de Marx: “Nós estamos acorrentados, alquebrados, vazios, ame¬dron¬ta¬dos-/Eternamente acorrentados a esse bloco marmóreo do ser...”. John¬son afirma que Marx gostava de citar o verso de Mefistófeles, do “Fausto” de Goethe: “Tudo o que existe merece perecer”. “Utilizou-o, por exemplo, em seu pequeno tratado contra Napoleão III, ‘O 18 Brumário’, e ele manteve por toda a sua vida essa visão apocalíptica de uma catástrofe imensa e pronta para se abater sobre o sistema vigente: estava na poesia, foi o pano de fundo do ‘Manifesto Comunista’ de 1848 e foi o clímax do próprio ‘O Capital’.” A leitura de “Missa Negra — Religião Apocalíptica e o Fim das Utopias” (Record, 353 páginas, tradução de Clóvis Marques), do filósofo John Gray, ajuda a entender o marxismo como uma espécie de pregação secular tão apocalíptica quanto algumas religiões. A análise é mais competente e complexa do que a de Johnson, que é mais militante. Marx, na acepção de Johnson, “é um escritor escatológico do começo ao fim. É digno de nota, por exemplo, que no projeto original de ‘A Ideologia Alemã’ (1845-1846) ele tenha incluído uma passagem que lembra bastante seus poemas a respeito do ‘Dia do Juízo’: ‘Quando os reflexos das cidades em chamas forem vistos nos céus (...) e quando as harmonias celestiais consistirem das melodias da ‘Marseillaise’ e da ‘Carmagnole’, tendo como acompanhamento canhões rimbombantes, enquanto a guilhotina marca o tempo e as massas inflamadas gritam ‘Ça ira, ça ira’, e a autoconsciência está pendurada no poste de luz’”. O que importa reter, segundo Johnson, “é que a ideia de Marx de um ‘dia do juízo’, tanto em sua lúgubre versão poética quanto, por fim, em sua versão econômica, representa uma visão artística, e não científica. Essa ideia sempre esteve na cabeça de Marx e, como um economista político, ele trabalhou a partir dela mas voltado para a frente, partindo de dados examinados objetivamente. E é claro que é o elemento poético que empresta à projeção histórica de Marx seu efeito dramático e de fascinação sobre os leitores radicais, que querem acreditar que a morte e o julgamento do capitalismo se aproximam. O talento poético se manifesta de forma intermitente nas páginas de Marx, criando algumas passagens memoráveis. No sentido de que ele intuía mais do que deduzia ou calculava, Marx até o fim continuou sendo um poeta”. Mas, além de poeta, rico em formular imagens, Marx foi jornalista. E dos bons, reconhece Johnson. “Marx achava não apenas difícil mas impossível planejar um livro grande — quanto mais escrevê-lo: mesmo ‘O Capital’ se constitui de uma série de ensaios aglutinados sem nenhuma ordem real. Porém, ele se sentia bem escrevendo textos curtos, penetrantes, reações opinativas no momento em que os acontecimentos se davam.” Para Johnson, o maior talento de Marx era como jornalista polêmico. “Utilizava epigramas e aforismos de forma brilhante, embora muitos não tivessem sido inventados por ele. Marat criou as frases: ‘Os trabalhadores não possuem uma pátria’ e ‘Os proletários não têm nada a perder a não ser suas correntes’. A famosa piada da burguesia usando brasões feudais em seus traseiros se deve a Heine, assim como ‘A religião é o ópio do povo’. Louis Blanc inventou: ‘De cada um, segundo sua capacidade, para cada um, segundo sua necessidade’. De Karl Schapper, tirou: ‘Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!’, e de Blanqui: ‘A ditadura do proletariado’.” Johnson defende a tese de que “foi o olho jornalístico de Marx para o texto lacônico, para a frase incisiva que, mais do que qualquer outra coisa, salvou do esquecimento toda a sua filosofia no último quarto do século 19”. O crítico examina também o Marx moralista: “Do mesmo modo que a origem da filosofia marxista se assenta numa visão poética, a elaboração dessa filosofia foi um exercício de retórica acadêmica. Entretanto, o que Marx necessitava para pôr em movimento sua maquinaria intelectual era de um estímulo moral. Ele o encontrou, em seu ódio à usura e aos agiotas, um sentimento violento relacionado diretamente com suas próprias dificuldades financeiras”. Parte dos discípulos de Marx era antissemita — como ele próprio, mesmo sendo de origem judaica. Ódio aos trabalhadores Como pesquisador, Marx não gostava de examinar problemas reais diretamente. “O tipo de informação que não interessava a Marx era aquele a ser obtido a partir do exame, com seus próprios olhos e ouvidos, do mundo e das pessoas que nele vivem. Ele era, total e incorrigivelmente, restrito a sua escrivaninha. (...) Marx escreveu sobre finanças e indústria durante toda a vida mas só conheceu duas pessoas ligadas aos sistemas financeiro e industrial, seu tio Lion Philips e Engels. (...) Mas Marx recusou um convite de Engels para acompanhá-lo na visita a uma fiação, e, até onde sabemos, Marx nunca esteve, durante toda a sua vida, numa manufatura, numa fábrica, numa mina ou em qualquer outro local de trabalho industrial.” Marx não gostava de trabalhadores, segundo Johnson. “Marx sempre preferiu se ligar a intelectuais da classe média como ele próprio. Quando ele e Engels fundaram a Liga Comunista e, de novo, quando formaram a Internacional, Marx se certificou de que os socialistas que eram da classe trabalhadora fossem afastados de qualquer posto de influência e fizessem parte de comissões meramente como proletários regidos por um estatuto. A razão para isso era, em parte, um esnobismo intelectual e, em parte, porque os homens com experiência real das condições numa fábrica costumavam ser contra o uso da violência e a favor das melhorias simples e progressivas: eles eram inteligentemente incrédulos quanto à revolução apocalíptica que ele afirmava ser não apenas necessária mas inevitável.” Para entender o Marx supostamente cientista, Johnson cita o filósofo Karl Jaspers: “O estilo dos escritos de Marx não é o do investigador (...). Ele não cita exemplos ou expõe fatos que se opõem a sua teoria mas apenas aqueles que provam ou confirmam aquilo que ele considera como a verdade última. Toda a sua abordagem é no sentido da justificação, não da investigação, mas trata-se de uma justificação de algo declarado como sendo a perfeita verdade com a convicção não do cientista, mas do crente”. Assim, frisa Johnson, os dados não eram centrais ao trabalho de Marx. “Eles estavam subordinados, reforçando conclusões que já tinham sido alcançadas independentemente deles. ‘O Capital’ deveria ser visto como um exercício de filosofia moralista. Trata-se de um sermão gigantesco e no mais das vezes incoerente, um ataque ao sistema industrial e ao princípio de propriedade feito por um homem que tinha criado um ódio intenso, embora essencialmente irracional, em relação a ambos. Curiosamente, essa obra não tem um argumento central que atue como um princípio organizador. (...) O único volume que ele chegou a escrever não possui de fato nenhuma forma coerente; trata-se de uma série de exposições isoladas arrumadas numa ordem arbitrária”. O leitor que acha ‘O Capital’ chato, confuso e enfadonho não é estulto, julga Johnson. “Engels reescreveu um quarto do texto. O resultado são 600 páginas enfadonhas e confusas sobre a circulação do capital e principalmente sobre as teorias econômicas da década de 1860.” O que parece complexo é, no dizer de Johnson, pura confusão razoavelmente amarrada. “O Capital” seria uma construção com pilastras não muito sólidas. Por que Marx não concluiu “O Capital”? Não foi porque morreu em 1883, sugere Johnson. “Na verdade, não houve nada que tivesse impedido Marx de terminar, ele próprio, o livro, a não ser falta de força de vontade e a consciência de que ele simplesmente não tinha coerência”. “O Capital” é, na versão de Johnson, uma profecia, não uma análise científica. “Toda a primeira parte da análise científica de Marx acerca das condições de trabalho no capitalismo em meados da década de 1860 se baseia numa única obra, o livro de Engels ‘A Situação da Classe Operária na Inglaterra’, publicado 20 anos antes.” As fontes de Engels, explica Johnson, estavam defasadas. “Ao apresentar os números estatísticos relativos aos partos de crianças ilegítimas, os quais eram atribuídos aos turnos da noite, deixou de declarar que eles datavam de 1801. Citou um trabalho sobre as condições sanitárias em Edinburgh sem deixar que seus leitores soubessem que tinha sido escrito em 1818. Em várias ocasiões, omitiu dados e acontecimentos que invalidavam completamente suas informações obsoletas.” O implacável Johnson afirma que Marx era, como intelectual, desonesto, falsificador de estatísticas e plagiário. Escreve Johnson: “Com o objetivo de tirar a classe operária inglesa de sua apatia e, por conseguinte, ansioso para provar que as normas existentes estavam perdendo o valor (isso num discurso inaugural para a Associação Internacional de Trabalhadores, em 1864)”, Marx “falsificou intencionalmente uma frase do discurso de 1863 de W. E. Gladstone relacionado com os gastos orçamentários. O que Gladstone disse, ao comentar o aumento da riqueza nacional, foi: ‘Eu deveria encarar quase com apreensão e com pesar esse aumento inebriante da riqueza e do poder se achasse que tal aumento se limitou à classe que está em condições mais favoráveis’. Porém, acrescentou ele, ‘a situação geral dos trabalhadores britânicos, como temos a felicidade de saber, melhorou ao longo dos últimos 20 anos num grau que, como sabemos, é extraordinário, e que devemos declarar como sendo sem paralelo na história de qualquer país em qualquer época’”. Em seu discurso, Marx atribuiu a Gladstone as seguintes palavras: “Esse aumento inebriante de riqueza e poder se limita inteiramente às classes proprietárias”. Na mesma época, a citação incorreta de Marx foi apontada. Mas ele a reproduziu em “O Capital”. Quando criticaram a falha no livrão, Marx ficou uma fera, desconversou e nada corrigiu. É a velha história stalinista (Marx foi stalinista antes de Stálin): quem aponta falhas de esquerdistas vira logo reacionário. Johnson acrescenta que “Marx falsificou citações de Adam Smith”. Na década de 1880, dois estudiosos de Cambridge descobriram falhas graves em “O Capital”. Verificando as referências de Marx, ficaram alarmados com as discrepâncias entre o original e a citação. “Num dos grupos de erros, descobriram que as citações tinham sido, amiúde, ‘abreviadas por conveniência por meio da omissão de passagens que provavelmente iriam contra as conclusões que Marx tentava provar’. Um outro grupo ‘consiste em reunir citações fictícias a partir de afirmações isoladas que constam de diferentes partes de um relatório. Essas afirmações eram então apresentadas entre aspas ao leitor como se fossem citadas diretamente dos próprios livros azuis’.” Os estudiosos concluíram se tratar de “um descaso quase criminoso no uso de fontes autorizadas”.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

QUATRO DIFÍCEIS CENÁRIOS PARA A SÍRIA

ZP12021303 - 13-02-2012 Permalink: http://www.zenit.org/article-29693?l=portuguese A preocupação do Metropolita ortodoxo de Aleppo ROMA, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) - Um país martirizado do qual destacamos quatro cenários diferentes, todos muito dolorosos. É a reflexão de Gregorios Yohanna Ibrahim, metropolita da Diocese de Aleppo, cujas declarações dadas ao Zenit quebram o sigilo mantido até agora pelas igrejas da síria, desde o início da repressão. De acordo com Bispo, o primeiro cenário, "muito perigoso", é determinado pela incapacidade de "imaginar o que pode acontecer no país nos próximos dias ou semanas." A segunda hipótese é a de uma "intervenção estrangeira", com o "controle indireto" da Síria por forças ocidentais diplomáticas ou militares. O terceiro cenário hipotizado pelo bispo ortodoxo é o de uma "guerra civil", cuja duração preocupa seriamente todas as partes envolvidas, e com a séria incognita com relação à entrada de armas no país. "Nós nos perguntamos - acrescenta Ibrahim - se a Síria não está arriscando seguir o caminho do Líbano depois de 1975." O quarto cenário é o pior de todos: dado que, observa o bispo sírio, a "primavera árabe não trouxe a democracia ao nosso país", mudanças vão necessariamente ocorrer. A incognita é sobre o "quando" e o "como". "Os modelos da Líbia, Egito e Yêmen, não alcançaram a felicidade de ninguém no mundo árabe", acrescentou Ibrahim. Dirigindo-se aos cristãos do Ocidente e de todo o mundo, o Metropolita de Aleppo, disse: "O que nós realmente precisamos é do vosso apoio moral e das vossas orações pela estabilidade e pela paz na Síria." "Um resultado positivo - prosseguiu o prelado - é que até agora não houve um êxodo em massa. O nosso Arcebispo de Homs na noite de sexta-feira disse que metade das famílias cristãs têm deixado a cidade, mas em outras aldeias e vilas ainda estão todos no lugar. " Ibrahim afirmou ainda que as embaixadas dos países árabes e europeus e dos EUA estão todas fechadas, por isso os sírios estão impossibilitados para obter o visto e expatriar. "Este é um bom sinal e pode parar a emigração antes do início", disse o bispo.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Testemunho de Mortimer Jerome Adler

Mortimer Jerome Adler nasceu na cidade de Nova York, filho de um vendedor de jóias imigrante. Abandonou os estudos aos 14 anos de idade e começou a trabalhar como secretário e copista no New York Sun, com esperança de se transformar em jornalista. Um ano depois, passou a freqüentar aulas noturnas na Universidade de Columbia para melhorar sua redação. Foi lá que ele se interessou, após a leitura da autobiografia do filósofo inglês John Stuart Mill, pelos grandes filósofos e pensadores da Civilização Ocidental. Adler sentiu-se impelido a continuar suas leituras ao descobrir qu e Mill lera Platão com apenas cinco anos de idade, enquanto ele nunca o havia lido. Um livro de Platão foi emprestado a ele por um vizinho e ele se apaixonou. Decidiu então estudar filosofia na Universidade de Columbia, onde conquistou uma bolsa de estudos. Mas ele era tão absorvido pela filosofia que não conseguiu completar as disciplinas requeridas de educação física para conquistar seu bacharelado. Apesar disto, seu domínio dos clássicos se tornou tão grande que a Universidade de Columbia o premiou com um doutorado em filosofia alguns anos após ele começar a lecionar lá. Adler se tornou instrutor na Universidade de Columbia nos anos 20. Ele continuou a participar do programa de leitura dos grandes clássicos que havia sido iniciado por John Erskine. Este tipo de ambiente inspirou seu interesse pela leitura e pelo estudo dos "Grandes Livros" da Civilização Ocidental. Ele também defendeu a idéia de que a filosofia deveria ser integrada com a ciência, a literatura e a religião . Esta combinação de interesses dominou sua carreira em instituições educacionais e de pesquisa como a Universidade de Chicago, a Universidade da Carolina do Norte (Chapel Hill), o Instituto para Pesquisas Filosóficas e o Instituto Aspen. Adler ajudou a fundar estes dois últimos institutos. No Instituto Aspen, ele ensinou os clássicos a executivos por mais de 40 anos. Ele também participava da Mesa Diretora da Fundação Ford e da Encyclopaedia Britannica, onde sua influência se mostrava claramente através das políticas e dos programas. Ele foi também co-fundador, junto com Max Weismann, do Centro de Estudo das Grandes Idéias. Adler foi indicado para o corpo docente da faculdade de filosofia da Universidade de Chicago em 1930. Esta indicação levou a um conflito com o resto do corpo docente, por causa das inovações que ele propunha para o currículo, mudanças baseadas nos seus interesses centrados na leitura, discussão e análise dos Clássicos e um enfoque filos ófico integrado ao estudo de disciplinas acadêmicas diversas. Estes conflitos com o corpo docente fizeram com que fosse deslocado, em 1931, para a Escola de Direito, como professor de filosofia do direito. Por toda sua carreira como filósofo e educador, Adler escreveu volumosamente, enfatizando com constância o enfoque integrado e multidisciplinar à filosofia, política, religião, direito e educação. Ele passou toda uma existência tornando os maiores textos da filosofia acessíveis a todos. Como ele mesmo escreveu, "Ninguém pode se educar inteiramente na escola, não importa quanto tempo permaneça lá ou quão boa ela seja". Por toda sua carreira como professor, Adler permaneceu devotado a ajudar aqueles de fora da academia a progredir com sua educação. Ninguém, independentemente da idade, deve parar de aprender, de acordo com Adler. Dr. Adler, um auto-entitulado pagão a maior parte de usa vida, converteu-se ao Cristianismo em 1984 e foi batizado por um pastor Episcopal em 21 de abril daquele ano. Em dezembro de 1999 ele se converteu ao catolicismo romano, e morreu tranqüilamente em sua casa na Califórnia em 28 de junho de 2001, aos 98 anos de idade. Fonte: http://radicalacademy.com/adlerbio.htm.