terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Igreja Católica na Coreia do Norte II

Coréia do Norte Nos últimos dois anos não ocorreram quaisquer mudanças significativas em termos de liberdade religiosa na Coréia do Norte... Iisto apesar de uma maior abertura demonstrada pelo regime comunista de Pyongyang em relação aos missionários da Igreja Católica e da Igreja Protestante, os quais, devido ao seu trabalho humanitário, puderam entrar no país com maior facilidade. A prática religiosa permanece, na realidade, estritamente proibida. Na Coréia do Norte, apenas o culto da personalidade de Kim Jong-Il e do seu pai Kim Il-Sung é permitido. O regime comunista tentou sempre impedir a prática da religião, especialmente por parte de budistas e de cristãos. Os crentes são obrigados a aderir a organizações controladas pelo partido. Os crentes não registrados e qualquer indivíduo envolvido em atividades missionárias são frequentemente sujeitos a uma perseguição brutal e violenta. Desde que o regime comunista foi estabelecido, em 1953, que cerca de 300 mil cristãos desapareceram, e dos padres e das religiosas que na altura viviam na Coréia do Norte nada se sabe, sendo que se parte do princípio que tenham sido perseguidos até à morte. De momento, pensa-se que cerca de oitenta mil pessoas se encontram a definhar em campos de trabalho, sujeitas à fome, à tortura e até mesmo à morte; no entanto este número baixou dos cerca de cem mil do último ano. Ninguém sabe se estes números (providenciados pelas ONGs que operam no país e que desejam manter o anonimato) são ou não precisos; e, no caso de o serem, não se apresentam razões para a diminuição nos valores. Antigos funcionários norte-coreanos e ex-prisioneiros afirmaram que os cristãos que estão nos campos de reeducação e nas prisões são tratados de forma pior do que os restantes detidos. De acordo com um documento secreto enviado a todos os quartéis militares do país em Setembro de 2007, a religião "está a espalhar-se como um cancro no seio das forças armadas da Coréia do Norte, cuja missão é defender o socialismo". Por esta razão a religião “deve ser erradicada sem demora pois provém dos nossos inimigos em todo o mundo". O documento foi tornado público por um membro do Comitê para a Democratização da Coréia do Norte, um grupo de exilados e refugiados políticos que o mandaram traduzir e publicar. "Não devemos ler os documentos, escutar ou ver as emissões de rádio ou de televisão, ou os materiais vídeo ou áudio elaborados pelo inimigo. O inimigo está a usar a rádio e a televisão para lançar falsa propaganda [religiosa e anti-socialista] através de notícias estratégicas e de intriga, muito bem-feitas", advertia o folheto. "Estão a colocar espiões em delegações internacionais que atravessam as nossas fronteiras para disseminar as suas religiões e convicções supersticiosas". Este material “é como um veneno que corrompe o socialismo e paralisa a consciência de classe" até mesmo entre os nossos soldados e "agora mais do que nunca" os soldados têm de o extirpar e montar guarda para prevenir o seu regresso”. Na Coréia do Norte, o Estado definiu cinquenta e uma categorias sociais. Um indivíduo que pratique uma religião que não se encontra sob o controle do Governo encontra-se evidentemente no fundo da tabela social, com menos oportunidades de educação, de emprego, de ajuda para obter alimentos, e encontra-se constantemente sujeito a uma violência brutal. As autoridades reivindicam que o país desfruta de liberdade religiosa e que esta está protegida pela Constituição. De acordo com números oficiais do Governo, existem dez mil Budistas, dez mil Protestantes e quatro mil Católicos no país, mas estas estimativas referem-se apenas a membros de associações oficialmente sancionadas. Em Pyongyang, existem três igrejas, duas protestantes e uma católica. Estas duas igrejas protestantes são usadas para difundir a propaganda do regime e os pastores no seu seio comparam o "querido líder", Kim Jong-Il, a um semi-deus. Na única igreja católica existente, não existe nenhum padre norte-coreano, mas as orações em grupo têm lugar uma vez por semana e, em casos excepcionais, as cerimônias religiosas são levadas a cabo por padres de etnia coreana, embora de nacionalidade estrangeira. A fome e a perseguição religiosa estão a fazer com que muitos norte-coreanos fujam do país. Se forem capturados, são frequentemente condenados à morte ou a trabalhos forçados. Um acordo entre a China e a Coréia do Norte tornou ainda pior uma situação que já era grave, pois os líderes chineses concordaram, na prática, em tratar os refugiados norte-coreanos como sendo "imigrantes ilegais" e repatriarão todos os que forem descobertos em território chinês, se necessário à força. Uma refugiada norte-coreana de 28 anos, identificada apenas pelo pseudônimo Park Sun-ja de modo a proteger a sua identidade, testemunhou perante uma conferência internacional sobre as violações de direitos humanos na Coréia do Norte. Foi citada pela LifeSiteNews como tendo dito que o infanticídio e o aborto forçado são práticas comuns nos campos de detenção da Coréia do Norte "e são levados a cabo de forma ainda mais brutal se a mãe for uma crente religiosa, qualquer que seja a sua religião". O que ela tem para dizer é chocante. "Eu ouvi os gritos tanto da mãe como da criança através das cortinas (num hospital). E testemunhei, através duma cortina parcialmente aberta, uma enfermeira a cobrir a face da criança com uma toalha molhada, em cima de uma mesa, sufocando-a. O bebe deixou de chorar cerca de dez minutos depois", disse Park. "Todos os prisioneiros que ali estavam acreditam que todas as crianças são imediatamente mortas à nascença e embrulhadas num pedaço de pano antes de serem queimadas numa colina ali perto", disse ela, acrescentando que o método habitual para induzir o nascimento precoce da criança era através de injeção. "Eu não consigo sequer imaginar como ela [a mulher acima mencionada] se deve ter sentido", afirmou Park. "Ouvi dizer que este tipo de atos tinha lugar no passado, mas depois de eu os ter visto com os meus próprios olhos, não senti que estivesse a viver numa sociedade civilizada". Park foi apanhada na China no ano 2000 e foi enviada durante dois meses para o campo de detenção da província de Shinuiju, onde viu o infanticídio acontecer. Conseguiu fugir para a Coréia do Sul em 2002. Igreja Católica Em várias ocasiões, Bento XVI mencionou os nossos "irmãos norte-coreanos" e convidou o mundo a rezar por eles. "Eu estou [. . .] consciente dos gestos práticos de reconciliação empreendidos para o bem-estar de todos na Coréia do Norte", disse o Papa durante a visita ad Limina Apostolorum feita pelos bispos coreanos em Dezembro de 2007. "Eu apoio estas iniciativas e invoco o cuidado providencial de Deus todo-poderoso sobre todos os norte-coreanos", acrescentou. O Papa estava a referir-se às muitas iniciativas caridosas empreendidas pela Igreja na Coréia do Sul em nome da população do Norte. Mas algo mudou desde o ano passado: a atitude do regime norte-coreano. Enquanto que dantes os trabalhadores cristãos declarados eram tratados como espiões ocidentais, eles são agora bem-vindos. Como parte desta "nova atitude", o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Pyongyang deu a sua bênção à construção do Centro de Reconciliação Nacional do Povo Coreano em Paju, na província de Gyeonggi-do, perto da fronteira com a Coréia do Norte. A decisão sobre este projeto partiu da Arquidiocese de Seul para "promover as relações com a Igreja norte-coreana" e "favorecer uma abordagem amistosa" aos habitantes do Norte. O regime comunista chamou-lhe "uma idéia positiva". O centro irá incluir um edifício de dois andares, um servindo como seminário, o outro para uso litúrgico, com uma igreja expiatória, um pequeno santuário e um auditório. O seminário, que poderá alojar cerca de cem pessoas, inclui uma área de estudo e um museu religioso. O Comitê de Reconciliação Nacional, presidido pelo Bispo Kim Un-hwi, tem a seu cargo o projeto e selecionou recentemente o arquiteto que irá projetar a estrutura. Os primeiros desenhos já se encontram disponíveis para exame público. O projeto irá cobrir uma área de 2.200 pyong (um pouco menos do que um hectare) e será construído de modo a refletir o velho estilo da arquitetura sacra norte-coreana conforme existia antes da divisão. A arquitetura das igrejas norte-coreanas é conhecida como um 'estilo arquitetônico inculturado' porque tem por base conceitos tradicionais coreanos de arquitetura. Além disso, e graças ao empenho dos Católicos da Coréia do Sul, o Hospital Católico Internacional Rason da Coréia do Norte foi ampliado. De acordo com a AsiaNews, as instalações ficam situadas na província de Hamgyeongbuk-do, no Leste do país. O hospital, que abriu as suas portas em 2005, foi construído com a ajuda do Serviço Médico da Cooperação Católica Internacional, graças à cooperação entre a Congregação de Santo Otílio da Ordem Beneditina e a Igreja Católica da Coréia. O edifício de três andares cobre uma área de 25.000 m² e está apetrechado com equipamento terapêutico e de diagnóstico. Possui cem camas e emprega oitenta médicos, enfermeiras e pessoal médico. "Os hospitais católicos dão esperança para a paz e a cooperação. Espero que este hospital, em particular, possa abrir caminho para uma futura cooperação", disse Notker Wolf, O.S.B (Ordem de São Bento), abade da congregação de Santo Otílio, no dia da sua inauguração. "Que um hospital possa abrir na Coréia do Norte com a ajuda e a assistência da Igreja é uma ocasião feliz", afirmou o Monsenhor Paul Ri Moun-hi, Arcebispo de Daegu (Coréia do Sul), presidente da fundação católica que providencia os fundos para o projeto. "Os esforços da Igreja Católica a favor da reconciliação e da unidade das duas Coreias não só constituem uma missão importante para a população coreana, como também para a paz e para a humanidade como um todo". Porém, apesar dos esforços da igreja, ninguém deverá pensar durante um minuto que seja que o regime comunista está a facilitar o seu trabalho. A situação para a Igreja Católica na Coréia do Norte permanece atroz. Com o fim da guerra civil em 1953, as três jurisdições eclesiásticas locais e toda a comunidade católica foram brutalmente apagadas do mapa pelo regime estalinista. Nem um único padre local foi deixado vivo e todos os clérigos estrangeiros foram expulsos. Nos primeiros anos de perseguição por Kim Il-Sung, o primeiro ditador da Coréia do Norte, cerca de 300 mil católicos desapareceram. Ainda assim, o Papa manteve vivo o clero ao atribuir sedi vacanti et ad nutum Sanctae Sedis (ou seja, sés vagas, sob a administração de bispos externos designados por Roma) a ordinários sul-coreanos. Neste momento, além do Cardeal Cheong, de Seul, que administra a diocese de Pyongyang, o Monsenhor John Chang Yik, Bispo de Ch'unch'on no Sul, é o administrador para Hamhung, e o Frei Simon Peter Ri Hyeong-u, abade do Mosteiro Beneditino de Waegwan, é o administrador para Tokwon, na Coréia do Norte. Para sublinhar a perseguição pelo regime norte-coreano, o Annuario pontificio, o Anuário Pontifício do Vaticano, ainda lista o Monsenhor Francis Hong Yong-ho como Bispo de Pyongyang. Embora ele não seja visto desde 10 de Março de 1962, nunca foi declarado morto oficialmente (se estivesse vivo, teria 101 anos de idade). A partir deste momento, não existe nenhuma instituição da Igreja, nem padres residentes na Coréia do Norte. Depois da inauguração da primeira igreja Ortodoxa em Agosto último na capital da Coréia do Norte, os Católicos são a única comunidade sem um sacerdote. Oficialmente, o número de Católicos é de 800, bem menos do que os três mil recentemente reconhecidos pelo Governo. A auto-denominada Associação Católica da Coréia do Norte, uma organização criada e dirigida pelo regime, ainda reivindica representar os Católicos locais, mas a Santa Sé sempre desencorajou as visitas dos seus líderes a Roma devido às contínuas dúvidas sobre o seu estatuto legal e canônico. Existem fortes indicações de que são na realidade funcionários do Partido Comunista e não católicos. A única igreja católica não tem padre mas organiza um momento de oração semanal em grupo. Mas tais locais de culto não são mais do que "montras" para os poucos turistas que conseguem visitar o país. Outras confissões religiosas cristãs Em Dezembro de 2005 que quatro cristãos ortodoxos norte-coreanos se encontram a estudar na cidade russa de Vladivostok para atualizar o seu sacerdócio, por um período de três meses. O grupo incluía um padre, dois diáconos e um estudante de música sacra. Para completarem os seus estudos, encontravam-se na Catedral de Svyato-Nikolsky, estudos esses que incluíam explicações teóricas e exemplos práticos de liturgia ortodoxa eslava. O grupo era liderado por Peter Kim Chkher, presidente da Comissão Ortodoxa Norte Coreana, e incluía os dois diáconos, Theodore e Ioann, e Kim En Chang, um diplomado da Escola de Música de Gnesiny. A Comissão Ortodoxa foi criada pelo Governo norte-coreano em 2002. O Frei Dionisy Pozdnyayev, padre ortodoxo do Patriarcado de Moscou, que tem sido o sacerdote dos estrangeiros que vivem na capital da Coréia do Norte a convite do Governo norte coreano, chama à Comissão "um sinal do reconhecimento oficial da Ortodoxia". Os quatro membros convidaram o Arcebispo Veniamin, de Vladivostok e Primorye, para a consagração da nova Igreja da Trindade, em Pyongyang, cerimônia que teve lugar em 2006. O chão da nova igreja foi benzido no dia 24 de Junho de 2003 pelo Arcebispo Ortodoxo Kliment Kapalin. Os representantes norte-coreanos disseram na ocasião que era "importante" para os crentes ortodoxos em Pyongyang terem a oportunidade de praticar a sua fé, e expressaram a "esperança" de que a construção da igreja fortalecesse os laços entre a Rússia e a Coréia do Norte. Para o embaixador russo na Coréia do Norte, Andrei Karlov, a igreja marcou "o regresso da Ortodoxia à Coréia depois de uma longa ausência". No início do século XX, cerca de dez mil coreanos converteram-se à Ortodoxia em cidades como Seul (Coréia do Sul), Wonsan (Coréia do Norte) e em muitas aldeias, em resultado do trabalho de missionários russos. Mas a regência colonial japonesa e o regime estalinista puseram fim à evangelização. Mais tarde, a atividade missionária viria a recomeçar na Coréia do Sul, país que conta atualmente com quatro igrejas ortodoxas. A delegação que veio a Vladivostok não é a primeira do gênero a chegar à Rússia proveniente da Coréia do Norte. Quatro norte-coreanos prosseguiram os estudos no Seminário Teológico do Patriarcado de Moscou entre 2003 e 2005, enquanto dois estudantes russos da Academia Teológica de Moscou estudaram o idioma e a cultura coreana na Universidade Kim Il-Sung, em Pyongyang. O Frei Dionisy afirmou que os quatro estudantes coreanos em Vladivostok se estão a concentrar no estudo da língua russa (incluindo o eslavo eclesiástico, que é usado na liturgia) e o catecismo, de modo a que possam preparar outros para o batismo. O Patriarca Alexis II de Moscou e de Toda a Rússia aprovou a escolha de Vladivostok como o local de formação do clero coreano. Graças a esta "ponte", uma delegação de cristãos ortodoxos russos, incluindo clérigos e membros da hierarquia da Igreja, puderam celebrar o Pentecostes com a pequena comunidade ortodoxa coreana. De acordo com uma declaração emitida pela diocese ortodoxa de Vladivostok, a "visita à capital da Coréia do Norte coincide com a celebração do Pentecostes. Neste dia, o primeiro templo ortodoxo, que foi aberto em Pyongyang em Agosto de 2006 e consagrado em honra da Trindade geradora da vida, celebra a sua festa de dedicatória". Muitos peritos vêem esta abertura inesperada como um sinal da "necessidade desesperada" de Pyongyang do apoio da comunidade internacional. Como resultado de políticas agrícolas e econômicas desastrosas, o país está à beira do colapso. A população vive só com um terço do que as Nações Unidas consideram o mínimo de calorias diárias necessárias para um ser humano. Mas apesar destes problemas, Kim Jong-Il manteve uma atitude de aparente indiferença à situação e continuou a bradar à "vitória do sistema socialista" no país. Deste modo a ajuda da Rússia, assim como a da China, tornou-se a única maneira do ditador manter a dignidade, permitindo, ao mesmo tempo, que os norte-coreanos possam sobreviver. Dados do País • Área (km²) 120.538 • População 23.912.000 • Cristãos 502.152 • Católicos --- • Dioceses --- • Refugiados ---

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