domingo, 12 de junho de 2011

Freud, Nietzsche e Bento XVI


[i]Artigo publicado no Jornal Folha da Manhã em 01/02/2006.[/i]

O Apóstolo São João resume o mau espírito do mundo nas três concupiscências, a da carne, que é a sensualidade, a dos olhos, que é a ganância de possuir, e a do próprio eu, a soberba. O Papa João Paulo II fez um paralelo entre essas concupiscências e três pensadores influentes da civilização moderna: Freud para a primeira concupiscência, Marx para a segunda e Nietzsche para a terceira.


     Na tentativa de solucionar o problema da busca da felicidade pessoal, Freud apresenta uma perspectiva pessimista, considerando impossível que o Eros (amor-prazer) domine seu inimigo o Tánatos (morte – impulso para a destruição). As conseqüências são, exteriormente, a guerra com os outros ou, interiormente, o sentimento de culpa e uma profunda ansiedade. Crise sem solução.


     Nietzsche, após ter renegado o pessimismo de Schopenhauer e se convertido ao Iluminismo, atacou o cristianismo e a moral cristã, aos quais opôs o culto de Dionísio. Achava que o cristianismo era contra o amor e a alegria de viver. Lamentavelmente, Nietzsche morreu louco.


     O Papa Bento XVI acaba de lançar a sua primeira Carta Encíclica “Deus é amor”, dedicada a mostrar como o cristianismo não reprime o amor, mas o eleva, dando a solução cristã que esses pensadores não tinham conseguido achar.


     O Papa explica as três palavras gregas que significam “amor”: “éros”, “philia” e “ágape”, acrescentando que no Novo Testamento “a marginalização da palavra eros, juntamente com a nova visão do amor que se exprime através da palavra agape, denota sem dúvida, na novidade do cristianismo, algo de essencial e próprio relativamente à compreensão do amor. Na crítica ao cristianismo que se foi desenvolvendo com radicalismo crescente a partir do iluminismo, esta novidade foi avaliada de forma absolutamente negativa. Segundo Friedrich Nietzsche, o cristianismo teria dado veneno a beber ao eros, que, embora não tivesse morrido, daí teria recebido o impulso para degenerar em vício”.


     Bento XVI responde assim a uma das objeções mais comuns apresentadas à Igreja. “Com os seus mandamentos e proibições — pergunta o Papa —, a Igreja não nos torna porventura amarga a coisa mais bela da vida?”. E dando-nos Cristo como exemplo, o Papa nos ensina em que consiste o verdadeiro amor-caridade, palavra que resume toda a mensagem do Evangelho.



Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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