ZP11041208 - 12-04-2011
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Artigo do cardeal Odilo Scherer
SÃO PAULO, terça-feira, 12 de abril de 2011 (ZENIT.org)
- Apresentamos artigo do cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo,
publicado na edição desta semana do jornal ‘O São Paulo’. O texto é
intitulado ‘Fraternidade e ecologia humana’.
* * *
Na
semana passada, ficamos todos chocados diante dos atos de barbárie
cometidos numa escola no Rio de Janeiro, onde 12 adolescentes foram
assassinados e 12 foram feridos por uma pessoa perturbada de cabeça; e,
antes de terminar a mesma semana, numa tragédia semelhante, várias
pessoas foram assassinadas num centro comercial na Holanda, sem nenhuma
explicação plausível. Aparentemente, também se tratava de uma pessoa
desequilibrada. Esses fatos chocantes, não totalmente raros, merecem uma
reflexão.
De fato, muitas são as interrogações sobre os motivos
de tais atos e outras tantas são as tentativas de explicar esse tipo de
comportamento humano anormal e violento contra o próximo. Não pretendo
explicar, mas parto de algumas constatações sobre o assassino do Rio de
Janeiro; elas também aparecem, em certa medida, em outros casos
semelhantes: mente perturbada, sinais de esquizofrenia, infância sofrida
e carente de afeto, dignidade e autoestima machucadas e reprimidas
durante a infância e a adolescência, desprezos suportados, isolamento
social e comportamentos solitários, vivência num mundo de fantasia
(internet), apreço por cenas de violência, paranóias de tipo religioso,
acesso fácil a armas... Enfim, um ser humano profundamente desajustado e
perturbado.
Como se chega a isso? Certamente, os psicólogos e
estudiosos do comportamento humano terão muito a dizer; a mente humana é
complexa e as decisões pessoais dependem de uma série de fatores. De
minha parte, desejo apenas refletir sobre a necessidade de uma renovada
atenção ao ser humano, a cada pessoa em particular. Talvez hoje, no
ritmo alucinante da vida social e econômica, acaba-se reservando pouco
tempo e atenção à pessoa humana. Quanto tempo os pais têm para estarem
com seus filhos pequenos e adolescentes, para ouvi-los, observá-los,
falar com eles, perceber suas inquietações e problemas? Quem quer perder
tempo com um adolescente problemático?
Quanto se leva em conta
na educação os pequenos desequilíbrios de comportamento e caráter, que
já podem aparecer na infância? Preocupam-nos as cenas de violência e
desrespeito à dignidade humana, que povoam telas e telinhas e se
instalam no inconsciente das crianças e adolescentes?
Durante a
Campanha da Fraternidade, falamos dos problemas ecológicos e, com razão,
preocupamo-nos com o equilíbrio ambiental, as mudanças climáticas e o
futuro da vida no nosso planeta Terra; tudo isso tem repercussões no
convívio humano e requer atitudes e comportamentos solidários e
fraternos. E o próprio ser humano, fazendo parte desse delicado
equilíbrio ambiental, não mereceria uma atenção especial também? Pelo
menos, a mesma que se tem diante da destruição de plantas e bichinhos?
O
papa Bento 16, na sua encíclica Caritas in Veritate, fala da
necessidade de desenvolver uma verdadeira “ecologia humana” (cf, n.51);
já tratara do mesmo tema o papa João Paulo 2º na encíclica Centesimus
Annus (cf. n.38). A ecologia humana refere-se ao conjunto de modos como o
homem trata de si mesmo e cuida do seu semelhante, dos hábitos pessoais
e estilos no convívio social. Quem alimenta sua mente de violência,
acabará praticando a violência um dia; o desprezo e o desrespeito pela
dignidade do próximo desencadeiam fermentos de ódio e violência; os
vícios cultivados e até incentivados são campo fértil para toda sorte de
males. E quando tratado bem e estimulado à prática da virtude, o ser
humano se torna semeador de obras de bem.
Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
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