ZP11041503 - 15-04-2011
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Arcebispo considera que essa é uma luta missionária da Igreja Católica
BELO HORIZONTE, sexta-feira, 15 de abril de 2011 (ZENIT.org)
- “A porosidade da ética civil, que sustenta fluxos e dinâmicas na
sociedade, pode explicar atrasos, desvarios e absurdos de cenários e
condutas, e até de fatos cruéis como o massacre de crianças e
adolescentes na Escola de Realengo.”
O arcebispo de Belo
Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, faz essa afirmação em artigo
divulgado à imprensa nesta sexta-feira, num texto em que defende a
contribuição da ética cristã para o desenvolvimento da ética civil.
Acontecimentos
como o do Realengo “exigem que se ponha a mão na consciência para que
haja antecipação de encaminhamentos e providências que darão rumo
diferente a esta sociedade enferma. Do contrário, corre-se contra o
tempo, numa tentativa de apenas minimizar prejuízos, muitos deles fatais
e irreversíveis na vida de indivíduos, famílias e comunidades”.
O
arcebispo reconhece que na sociedade contemporânea há um pluralismo
moral, mas “que não dispensa a construção de convergências até para
garantir a insubstituível dinâmica democrática como questão de
civilidade”.
“O que caracteriza a ética civil não pode
prescindir do que vem da moral cristã - contribuição indispensável,
tanto pela solidez de seus princípios quanto pela missão daqueles que
creem em Cristo têm, no sentido de contribuir e participar da confecção e
manutenção do tecido determinante na vida da sociedade.”
“Por
um lado considera-se a diversidade que emoldura a postura moral na
sociedade pluralista. Por outro, o atendimento da demanda na
configuração da ética civil não pode virar as costas para o acervo
inesgotável que é a ética cristã”, afirma.
Segundo Dom Walmor, essa é uma luta missionária da Igreja Católica, considerando a gravidade do desafio.
Não
se pode assistir de braços cruzados – prossegue o arcebispo – ao
“processo de configuração, por vezes de deterioração, da ética civil,
indispensável no sustento da sociedade contemporânea”.
“A
sustentabilidade é um âmbito que não pode apenas considerar números,
rendimentos, a conservação da natureza e outros itens também importantes
para a vida no planeta. Em toda e qualquer sociedade, a moralidade é
uma alavanca de sustentação para a qual não há substitutos.”
“A
corrupção, a indiferença, os interesses cartoriais e outras dinâmicas
perversas prejudicam a vida social e política. Diariamente, os
noticiários, em diferentes meios, preenchem a maior parte do tempo
tratando questões desse âmbito, revelando as origens dessas
vulnerabilidades comprometedoras”, afirma.
“É verdade que a
ética civil tem leito próprio em relação à confessionalidade. Ora, a
vida social não é dirigida por uma determinada profissão de fé. Reporta,
pois, ao tema da laicidade, que é entendida como racionalidade e não
como confessionalidade.”
Dom Walmor explica ainda que ética
civil não se confunde com civismo. “O civismo é a expressão da
convivência cidadã ajustada aos usos convencionais, enquanto a ética
civil refere-se ao universo da responsabilidade e dos valores morais”.
“O
termo civil não pode ser entendido como contraposição ao que é militar,
ou eclesiástico, ou mesmo ao social e profissional, embora nestes tenha
uma grande e importante incidência.”
“A ética civil é, pois –
prossegue o arcebispo –, a referência à instância moral da cidadania e
da civilidade. Essa instância moral não pode ser esgarçada e diluída sob
pena de prejuízos sérios, como se pode constatar na dimensão moral da
vida humana, com repercussão na convivência social e cidadã em geral.”
“A
amplitude desse campo de abordagem - com suas peculiaridades - merece,
entre outros pontos de constante reflexão, a preocupação com as
vulnerabilidades dos limites humanos”, afirma.
Esses limites
“têm nomes como o interesse exagerado pelo dinheiro, que faz deste o
ponto determinante de negociações, impedindo, muitas vezes, a
permanência de projetos de grande importância para a sociedade”.
“Não
menor é a vulnerabilidade que se constata pelo descompasso da estatura
adquirida na competência profissional e humana, impedindo muitos de
aguentar desafios, de fazer sacrifícios e de permanecer nas
‘trincheiras’ por altruísmo.”
“Atitudes que não permitem que
questões menos relevantes os levem à condição de desertores bem no auge
da batalha. Esse é um enorme desafio emoldurado pela carência de
entendimentos no âmbito da ética civil”, assinala Dom Walmor.
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