RELAÇÕES ENTRE A O CARDEAL RATZINGER E A OBRA DE ADORNO

Todos sabem que Ratzinger (segue biografia ) desde quando foi da juventude hitlerista e depois oficial da Reichwehr, só abandonou estes falsos dogmas, após serem derrotados pela solidez da antiga Santa Inquisição. Mas o que não associaram é que mais até do que T.W.Adorno, ele é o inimigo mais declarado do progresso, no que se vê no modo como ele condena a Igreja progressista (veja os condenados da fé por Ratzinger ) ao declarar: "Ir na contra corrente e resistir aos ídolos da sociedade contemporânea forma parte da missão da igreja?.

Deste modo abandona o modelo anterior e monta sua própria juventude em carreira solo, cujos membros o santo padre perdoa com indulgências (troca de favores entre o sacerdote e o fiel pelo perdão dos pecados historicamente foi sexual ou monetário, hoje pede-se apenas um compromisso com o Papa, baratinho, não ser gay e não fazer aborto) em nome de Deus, desde que façam alguns favores, como o de condenar veementemente a tal ?Cultura Gay?, o comunismo, a maçonaria e as outras religiões.
Ratzinger foi e é um dos mais poderosos integrantes da Cúria Romana, e durante vinte e três anos (no período do Papa João Paulo II), foi perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé, (forma como o Tribunal da Santa Inquisição passa a ser chamado a partir de 1908).
Ademais, enquanto era apenas um cardeal e ocupava o posto de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger deu importantes declarações sobre política externa, como a posição contra a entrada da Turquia na União Européia e foi o responsável pela publicação da epístola ?Dominus Iesus? (2000), na qual o Vaticano diz com todas as letras que quem não acata a ?verdade? como interpretada pela Igreja Católica está em sérios apuros teológicos, ?in statu gravis penuriae?.
Citemos o episódio em que ganha o título de Doutor: ?Me parecia emocionante que na cerimônia dos Doutores honoris causa estivessem três pessoas tão diferentes: um economista judeu, um farmacólogo calvinista e o Prefeito da Congregação para a Doutrina da fé? (acrescente-se que foi nazista de longa data), para o cardeal isto foi um sinal (como faz questão de citar João Quartim de Moraes na introdução à História da Inquisição em Portugal) que ?a inquisição não era tão obscura quanto dizem?. Estas palavras foram pronunciadas pelo Cardenal Joseph Ratzinger em Pamplona, na ocasião em que foi investido na Universidade de Navarra com Doutor Honoris Causa , junto com os Professores Douwe Breimer e Julian Simon. «Isto ?explicava o cardeal? é resultado de um espírito de abertura que, mais além das confissões religiosas, encontra algo comum nesse empenho de buscar a Verdade e o bem pessoal?, lembrando de que o cardeal é quem é e que a universidade de Navarra é o primeiro foco da Opus Dei e que foi um dos epicentros da inquisição, mostra a profundidade do espírito de contradição do cardeal, mesmo que profundamente anti-dialético. Tudo isto graças aos auspícios de Mons. Javier Echevarría, bispo Prelado da Opus Dei e do Conselho da Universidade.
Mas a verdadeira questão de como Ratzinger aprendeu sobre a teoria crítica de modo tão bem citadinho, mostra o seguinte flagra das aulas particulares que tinha com um devasso liberal-imperialista Habermas, que ?coerente com a defesa que fez, tempos atrás?, do massacre da Sérvia, voltou à carga: ?Nós todos não sabemos ainda quase nada. É um ataque ao conjunto da civilização ocidental" .
DIÁLOGO ENTRE HABERMAS E O CARDEAL HAZINGER
Seguiu um acalorado debate entre ambos no qual Habermas ajudava nos conhecimentos do antigo professor da universidade de leva o filósofo recém convertido no universalismo concreto (o ocidente com armas e sem conversa) no papo .

Dizia Habermas sobre o caso: - A dialética, caro Cardeal, é uma idéia que vai crescendo se desenvolvendo, mas que, como vemos em Hegel (o jovem), é tudo conversa! Não é nada do que falou depois Marx...
Para a igreja é difícil entender a modernidade e quanto mais esse tal de Hegel, eu pensava que ele tinha um quê de revolucionário, sabe, de Heresia, que se achava um profeta de Deus - sem o aval do Santo Ofício - mas do modo como o senhor coloca eu vejo a coisa diferente, ele está do lado dos autos da fé, com sua fé no ?Espírito? Santo ? Respondeu o Cardeal ? a questão que fica é: e quando ninguém se entende...
Então a coisa fica complicada ? Retorquiu o fanho filósofo - Adorno achava que a coisa ia tão pra frente que ia pra trás, mesmo se alguém achava que entendia algo, mas eu acho que, neste caso, basta que a razão se defenda, isto é, que o Ocidente se defenda e invada um país inimigo, ou então jogar uma bomba em alguém e começar de novo [trecho imcompreensível]... com um outro assunto.
Isto parece muito complicado ? respondeu o intelectual barroco ? a igreja resolveu desde há muito tempo estes problemas de interlocução, era só falar em Latim que ninguém entendia, e essa tal modernidade, se eu não em engano, envolve revoluções, não é mesmo? O clero não pode estar do lado de revolucionários, e do povo, ela deve estar do lado da razão, é isto que queremos evitar, e evitar a confusão de haver duas opiniões divergentes...

- Calma aí eminência ?respondeu ansiosamente Habermas -chamar a modernidade de revolucionária é esquecer o Kant, o senhor sabe que a idéia é garantir que não importa a opinião, deve-se obedecer! Hegel é a mesma coisa, mas o sistema como um todo muda, mas não o mundo da vida, todo mundo sabe que na Grécia os Bárbaros, os não ocidentais, se tornaram escravos, tinham sua opinião, mas nunca se precisou saber dela. Esta é a essência do ocidente.

-Meu filho ? disse calmamente o Cardeal, seguro de ia levá-lo no papo ? eu quero o que a igreja quer, que é a união e o consenso como você sempre diz, no contexto do ataque ao Ocidente, como também concorda, isto é, precisamos de um substrato da certeza comum... [Habermas tenta interrompê-lo com estranhos ruídos]
Mas... [o cardeal o interrompe]
- Escute meu jovem - esta certeza não vem do cálculo, vêm da fé, e do fim do relativismo e do choque entre culturas.
- O senhor não tem problemas com os pós modernos? ? prosseguiu indagando o Cardeal - Sobre a modernidade da igreja acredita que ?não foi prematura, pelo contrário, porque pressupõe que a igreja tenha entrado na modernidade justamente no momento em que o mundo se apressava com os acontecimentos de 1968, a intuir os primeiros sinais da pós-modernidade. E a pós-modernidade, impregnada de pessimismo, de dúvida, de pensamento débil, parecia mais necessitada da velha igreja, do dogma e das certezas envoltas em mistério, que de igreja aberta pós-conciliar?.
- É importante levar a razão para dentro da igreja, num movimento na qual elas próprias se abram para uma complementaridade essencial entre razão e fé, de modo que um processo universal de purificação possa se desenvolver, no qual as normas e os valores essenciais de alguma forma conhecidos ou pressentidos por todos os homens possam adquirir uma nova intensidade luminosa, de sorte que novamente possa vigorar na humanidade aquilo que segura o mundo, seu Hegel sacrifica a dimensão de história da salvação do futuro num processo mundial que gira em torno de si mesmo.
Neste momento Habermas meditou profundamente em silêncio e respondeu tentando abalar o cardeal:
- Existe um pathos de uma realização dessublimada do reino de Deus sobre a Terra que é sustentado pela crítica da religião, de Feuerbach e Marx a Bloch, Benjamin e Adorno: "Nenhum conteúdo teológico continuará existindo intransformado; cada um deverá submeter-se à prova de migrar para o secular, profano", dizia Adorno, pois até então o curso da história havia mostrado, de fato, que a razão exige demais das próprias forças com um tal projeto. Como se a razão assim desgastada no processo de seu desenvolvimento, desesperasse de si mesma. Adorno assegurou, ainda que somente com intenção metodológica, da ajuda do campo de visão messiânico: "O conhecimento não tem nenhuma luz senão a que brilha sobre o mundo a partir da redenção" ("Minima Moralia"). Nesse Adorno procede a frase que Horkheimer cunhou para a teoria crítica no todo: "Ela sabe que Deus não existe, mas mesmo assim acredita nele". Sob outras premissas, Jacques Derrida defende hoje uma posição semelhante. Do messianismo ele só quer reter "o mais mísero dado messiânico, que esteja despido de tudo".
-A emancipação dos homens sem Deus fracassou, e esse tal Adorno aí que você estudou e que era seu amigo [o Cardeal frisou bem o acento sobre o ?dein Freund?, o Du, frisa que o Cardeal trata em alemão a todos como crianças], eu achava que ele levava a juventude pro mau caminho, mas então ele soltou os cachorros em cima dos estudantes e hoje eu desejo entendê-lo ? disse Hatzinger.

- Eu posso ajudá-lo ? respondeu Habermas- que parecia de acordo.

-Gostei de ter vindo meu filho ? respondeu o cardeal - vocês filósofos devem vir a público para pagar seus pecados, pois você vê que estamos do mesmo lado, a Santa Igreja, pela fé e pelo fogo, sempre iluminou o mundo. Perdoamos os pecados somente de nossas crianças, como fizemos em Berlim, pois corriam o risco de achar que iam se redimir por ficar do lado dos pobres, culpa dessa sua filosofia (ele se referia à teoria crítica), que você deve limpar do marxismo de seus ex-companheiros.Vocês devem reconhecer sua culpa em relação à decadência do Ocidente, para preservá-lo não deve haver progresso, é simples. Deve-se apenas definir o que é o Ocidente e quem não está dentro dele...

[Ambos trocam cordialidades e se retiram]
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Foi assim que o Papa sucedeu Jürgen Habermas e Axel Honneth como o mais influente teórico da intelectualidade alemã pós-pré-crítica e segue iluminando o mundo com as fogueiras que acendeu na Santa Sé e resolve questões profundas da obra de T.W.Adorno.

?É preciso que, na autocrítica da idade moderna, conflua também uma autocrítica do cristianismo moderno, que deve aprender sempre de novo a compreender-se a si mesmo a partir das próprias raízes. A este respeito, pode-se aqui mencionar somente alguns indícios. Antes de mais, devemos perguntar-nos: o que é que significa verdadeiramente « progresso »; o que é que ele promete e o que é que não promete? No século XIX, já existia uma crítica à fé no progresso. No século XX, Teodoro W. Adorno formulou, de modo drástico, a problematicidade da fé no progresso: este, visto de perto, seria o progresso da funda à megabomba. Certamente, este é um lado do progresso que não se deve encobrir. Dito de outro modo: torna-se evidente a ambiguidade do progresso. Não há dúvida que este oferece novas potencialidades para o bem, mas abre também possibilidades abissais de mal ? possibilidades que antes não existiam. Todos fomos testemunhas de como o progresso em mãos erradas possa tornar-se, e tornou-se realmente, um progresso terrível no mal. Se ao progresso técnico não corresponde um progresso na formação ética do homem, no crescimento do homem interior (cf. Ef 3,16; 2 Cor 4,16), então aquele não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo?.



?Foi assim que os grandes pensadores da escola de Francoforte, Max Horkheimer e Teodoro W. Adorno, criticaram tanto o ateísmo como o teísmo. Horkheimer excluiu radicalmente que se possa encontrar qualquer substitutivo imanente para Deus, rejeitando porém, ao mesmo tempo, a imagem do Deus bom e justo. Numa radicalização extrema da proibição das imagens no Antigo Testamento, ele fala da « nostalgia do totalmente Outro » que permanece inacessível ? um grito do desejo dirigido à história universal. Adorno também se ateve decididamente a esta renúncia de toda a imagem que exclui, precisamente, também a « imagem » do Deus que ama. Mas ele sempre sublinhou esta dialética « negativa », afirmando que a justiça, uma verdadeira justiça, requereria um mundo « onde não só fosse anulado o sofrimento presente, mas também revogado o que passou irrevogavelmente. ».[30] (DN) Isto, porém, significaria ? expresso em símbolos positivos e, portanto, para ele inadequados ? que não pode haver justiça sem ressurreição dos mortos e, concretamente, sem a sua ressurreição corporal. Todavia uma tal perspectiva, comportaria « a ressurreição da carne, um dado que para o idealismo, para o reino do espírito absoluto, é totalmente estranho ».[31] (DN)?



?O século XIX não perdeu a sua fé no progresso como nova forma da esperança humana e continuou a considerar razão e liberdade como as estrelas-guia a seguir no caminho da esperança. Todavia a evolução sempre mais rápida do progresso técnico e a industrialização com ele relacionada criaram, bem depressa, uma situação social completamente nova: formou-se a classe dos trabalhadores da indústria e o chamado « proletariado industrial », cujas terríveis condições de vida foram ilustradas de modo impressionante por Frederico Engels, em 1845. Ao leitor, devia resultar claro que isto não pode continuar; é necessária uma mudança. Mas a mudança haveria de abalar e derrubar toda a estrutura da sociedade burguesa. Depois da revolução burguesa de 1789, tinha chegado a hora para uma nova revolução: a proletária. O progresso não podia limitar-se a avançar de forma linear e com pequenos passos. Urgia o salto revolucionário. Karl Marx recolheu este apelo do momento e, com vigor de linguagem e de pensamento, procurou iniciar este novo passo grande e, como supunha, definitivo da história rumo à salvação, rumo àquilo que Kant tinha qualificado como o « reino de Deus ». Tendo-se diluída a verdade do além, tratar-se-ia agora de estabelecer a verdade de aquém. A crítica do céu transforma-se na crítica da terra, a crítica da teologia na crítica da política. O progresso rumo ao melhor, rumo ao mundo definitivamente bom, já não vem simplesmente da ciência, mas da política ? de uma política pensada cientificamente, que sabe reconhecer a estrutura da história e da sociedade, indicando assim a estrada da revolução, da mudança de todas as coisas. Com pontual precisão, embora de forma unilateralmente parcial, Marx descreveu a situação do seu tempo e ilustrou, com grande capacidade analítica, as vias para a revolução. E não só teoricamente, pois com o partido comunista, nascido do manifesto comunista de 1848, também a iniciou concretamente. A sua promessa, graças à agudeza das análises e à clara indicação dos instrumentos para a mudança radical, fascinou e não cessa de fascinar ainda hoje. E a revolução deu-se, depois, na forma mais radical na Rússia.?

A encíclica na íntegra, em português, tem no site:  http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20071130_spe-salvi_po.html