domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sem princípios morais democracia é frágil, afirma Papa

LONDRES, 17 SET (ANSA) - O papa Bento XVI disse hoje que a base da democracia é frágil se for fundamentada só no consenso e se mostrou preocupado pela marginalização da fé na sociedade e na política, ao se reunir com representantes civis no Westminster Hall, sede do Parlamento britânico. "Se os princípios morais que sustentam o processo democrático não se fundamentam, a sua volta, em nada mais sólido que o consenso social, então a fragilidade do processo se mostra em toda a sua evidência", declarou o Pontífice, no segundo dia de sua visita de Estado ao Reino Unido, complementando que "aqui está o desafio real da democracia". Bento XVI elogiou a tradição legislativa britânica como modelo e "fonte de inspiração para muitos no mundo". "A Grã-Bretanha emergiu como uma democracia pluralista, que atribui um grande valor à liberdade de expressão, à liberdade de afiliação política e ao respeito ao Estado de Direito, com um forte sentido dos direitos e deveres dos cidadãos individuais, e da igualdade de todos os cidadãos frente à lei", completou. Em fevereiro, o Papa falou que normas a favor da igualdade de homossexuais batem de frente com o catolicismo ao "impor injustas limitações à liberdade da comunidade religiosa de agir de acordo com sua fé". Na época, estava em estudo no Parlamento britânico a lei Equality Bill, que obrigaria instituições católicas de adoção a conceder a guarda de crianças a casais formados por pessoas do mesmo sexo. O pronunciamento gerou muitos protestos no Reino Unido. Sobre sua preocupação quanto à "marginalização da religião, em particular do cristianismo", o chefe de Estado do Vaticano assinalou que essa mudança está se enraizando em "alguns ambientes e em nações que atribuem à tolerância um grande valor". "Há alguns que sustentam que a voz da religião deveria ser silenciada, ou relegada à esfera puramente privada", disse ele. "Estes são sinais preocupantes da incapacidade de colocar em posição justa não só os direitos dos fieis à liberdade de consciência e de religião, mas também o papel legítimo da religião na esfera pública", acrescentou. O Papa também falou sobre economia, afirmando que se há bancos e empresas "grandes demais para falir" que justificam os "vastos recursos" que "os governos estão em condição de recolher para salvá-los", como foi dito durante a recente crise, "certamente o desenvolvimento integral dos povos da terra não é menos importante: é uma companhia digna da atenção do mundo, verdadeiramente 'grande demais para falir'". De acordo com Bento XVI, para realizar uma "ação efetiva" são necessárias "ideias novas, que melhorem as condições de vida em áreas importantes, como a produção de alimento, o tratamento da água, a criação de postos de trabalho, a formação, a ajuda às famílias, especialmente aos imigrantes, e os serviços sanitários de base". Convidando expoentes da sociedade civil, política, cultural e empreendedores a "procurar os caminhos para promover e encorajar o diálogo entre as fés e razões a cada nível da vida nacional", o Pontífice falou dos "setores de interesse" nos quais o governo britânico "se comprometeu junto à Santa Sé", como a limitação do comércio de armas, a defesa dos direitos humanos, a promoção do desenvolvimento e a colaboração na "remissão do débito" no apoio financeiro aos países pobres. Bento XVI disse desejar buscar com o Reino Unido "novas estradas para promover a responsabilidade ambiental", o que tem sido uma das bandeiras de seu Pontificado. "Espero e rezo para que esta relação [bilateral] continue a render frutos e se reflita em uma crescente aceitação da necessidade de diálogo e respeito a todos os níveis da sociedade, entre o mundo da razão e o mundo da fé". Assistiram ao discurso do Papa, que foi muito aplaudido, os ex-primeiros-ministros britânicos Gordon Brown, Tony Blair, Margaret Thatcher e John Major, além do vice-premier Nick Clegg e do chanceler William Hague. Na ocasião, o líder máximo da Igreja Católica recordou a figura de São Tomás Moro, proclamado por João Paulo II patrono dos governantes e políticos, e que no mesmo Westminster Hall foi condenado por se recusar a aceitar o Ato de Supremacia do rei Henrique VIII, de quem era chanceler, que rompeu com a Santa Sé e criou a Igreja Anglicana em 1535.

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