segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Comunismo não desapareceu só mudou de modelo (neomarxismo)

Neomarxismo


Poderia-se objetar que com a “Perestroika”, a caída do muro de Berlim e a abertura do Leste Europeu, o comunismo já foi superado. De fato, os paises satélites do Pacto de Vasorvia foram libertados da dominação soviética e conta hoje com estruturas democráticas; a cortina de ferro caiu e as duas Alemanhas foram reunificadas. O sistema econômico do comunismo caiu e foi substituído por sistemas orientados à economia social de mercado ocidental.

Todavia, o comunismo é um principio que, enquanto tal, pode ser realizado de modos distintos, conforme as distintas características dos diversos períodos históricos. Ainda mais, sua ação se adapta de modo necessário às condições históricas objetivas e subjetivas. Portanto, se bem que o comunismo bolchevique despencou, o comunismo mantém uma vigência histórica, hoje qualificada como “neocomunismo” ou “neosocialismo”.

Desta forma, o modelo de insurreição bolchevique foi descartado para definir e assumir um modelo distinto, mais complexo e mais profundo, pois compromete orgânica e integralmente as consciências das pessoas. De fato, a estratégia de ação política direta deu origem estratégia de ação indireta, fundada em um processo de revolução cultural.

Foi Karl Marx quem estabeleceu o principio materialista dialético segundo o qual a infraestrutura (economia/matéria) determina a superestrutura (cultural/espírito) razão pela qual revolução devia ser realizada pelo proletariado contra a burguesia, ou seja, “de baixo para cima”.

Em seu afã de realizar a revolução mundial e observando as dificuldades que enfrentou o processo revolucionário na Rússia, Antonio Gramsci, Secretario Geral do Partido Comunista Italiano (PCI), aprofundou o principio do materialismo dialético e adaptou o comunismo à realidade do Ocidente. Gramsci desenvolveu então o conceito de “hegemonia ideológica” consignando que:

“O movimento entre infra e superestrutura é de caráter dialético, ou seja, se a infraestrutura material determina a superestrutura ideológica, política, cultural e moral, esta superestrutura a sua vez pode ter vida própria e atuar sobre a infraestrutura”.

Gramsci, partindo de tal premissa, estabeleceu um modelo revolucionário segundo o qual a hegemonia cultural é a base da revolução comunista, significando com isto que esta depende da capacidade que as forças revolucionarias adquirem para controlar os meios que permitem dirigir a consciência e conduta social. É por tal causa que o processo revolucionário se faz sutil, gradual, e progressivo. Tendo presente que Vladimir Llich Ulianov, aliás Lênin, concebeu a revolução como um “processo de transpasse de poder” que pode ser realizado tanto de maneira sangrenta como incruenta, Gramsci procede a realizar a revolução de modo invertido, ou seja, “de cima para baixo” , da superestrutura para a infraestrutura. Uma revolução entendida assim se realizará através da intervenção e transformação ideológica da cultura, e consiste em modificar de maneira imperceptível o modo de pensar e sentir das pessoas para, por extensão, terminar modificando final e totalmente o sistema social e político.

A estratégia disposta pelo pensador marxista Antonio Gramsci foi projetada pela chamada Escola de Frankfurt, originalmente fundada em 1923 como “Instituto para o Novo Marxismo” e logo denominado “ Instituto para a Investigação Social” (Instituí für Sozialforschung) para encobrir seu claro sentido político.

É por isso que, mediando Georges Lukács, Max Horkheimcr, Theodor Adorno, Wílhelm Reich, Erich Fromm, Jean Paul Sartre, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, etc., se formula a doutrina do "neocomunismo" e a partir dela a esquerda elabora um programa concreto de ação estruturalista que consegue uma decisiva influencia em distintos campos do pensamento, na psicologia (Lacan), na educação (Piaget) e na etnologia (Levi Strauss), entre outros. Foram basicamente estas elaborações ideológicas que ativaram e sustentaram o processo revolucionário dos anos sessenta, sendo particularmente efetivas entre os estudantes das universidades da França e Alemanha. Assim mesmo, estas idéias também seriam a base do chamado “eurocomunismo” como do “neosocialismo” desenvolvendo em distintas extensões durante os anos oitenta e noventa.

O principio constitutivo desta crença radica no materialismo refinado (matéria incriada e viva) que nega a existência de um principio anterior e superior ao homem, qualquer que ele seja. Este sistema de pensamento se define a si mesmo como uma crença que explicitamente nega a existência de um Deus criador, que rechaça a existência da alma humana e, portanto, de toda essência e toda transcendência do ser. Afirma, pois, a soberania do homem, no entanto este não é senão uma concreção existencial fragmentária da matéria em fluxo.

Se impõe um sistema cultural multicuturalista baseado em um relativismo absoluto, no qual implica a negação da existência de verdades absolutas de validez universal.

Friedrich Engels mesmo já o antecipava: “ Para a filosofia dialética não existe nada definitivo, absoluto”. Agora, um dirigente político proclama: “Não há verdades absolutas de nenhum tipo”.

Assumindo tais premissas, como se manifesta concretamente este novo tipo de ação revolucionária?

A aplicação deste sistema filosófico-politico procura gerar um animo hostil contra todo tipo de autoridade, expressando-se isto numa conduta de deliberada resistência e rebeldia perante a crença em Deus; contra a instituição da Santa Igreja, cuja reputação se degrada sistematicamente; contra o Estado, cuja autoridade se denigre constantemente; contra a ordem na família, onde se mina a autoridade dos pais; contra a ordem na escola, onde se limita a autoridade dos professores; e, em definitivo, contra toda forma de hierarquia e ordem na vida social.

Perante a ausência de um ser superior, semelhante quebra da ordem natural conduz a uma completa perda de princípios e valores originais fundamentais, o qual gera um radical decaimento na moral. Sob pretexto de educar num uso mais responsável das forças prócriativas, se desencadeiam as paixões dos meninos e adolescentes através de uma educação sexual estatal nos colégios. Através dos meios de comunicação se derrubam todos os tabus, corrompendo o ideal da santa pureza, da inocência e da virgindade, dando origem a um ambiente de impureza onipresente. Assim se aplica em nossa época, ao pé da terra, a estratégia lançada por Lênin e comprimida na seguinte frase muitas vezes citada:

“Se queremos aniquilar uma nação, devemos aniquilar antes sua moral. Logo, esta nação cairá em nosso regaço como fruto maduro. [...] Interessa a juventude na sexualidade e apoderareis dela sem dificuldade.”

Se dissolve a instituição da família com a legalização do divorcio. Assim, se promove tanto o trabalho da mulher para apartá-la do lar como da assistência na jornada completa dos filhos ao colégio. A razão disso a evidenciou claramente Olaf Scholz, então Secretario Geral do Partido Socialista da Alemanha (SPD) quando se referindo à jornada escolar completa – à qual estima insuficiente – e aos pré-escolares e maternais, sustem:

“Queremos alcançar com isso uma revolução cultural. [...] Queremos conquistar o espaço aéreo sobre as camas dos filhos”.

Para impedir a existência de famílias numerosas se implantam programas de controle de natalidade. Neste mesmo sentido, também se promove o matrimonio entre pessoas do mesmo sexo, concedendo-lhes inclusive o direito de adoção de menores.

Afim de provocar uma desestruturação do sistema social, se introduz um igualitarismo radical projetado na teoria do gênero segundo a qual o ser humano é determinado exclusivamente pela coletividade e por sua natureza masculina e feminina. Esta idéia se reflete também em um feminismo extremo.

Enfim, o neocomunismo proclama o ‘decaimento’ do homem em termos de que é agora ele, por si e diante de si, quem domina seu corpo e determina seu destino. Assim, dando conta de uma contradição fundamental, por uma parte rechaça a pena de morte ao negar qualquer autoridade o direito de determinar sobre a vida do homem mas, por outra, sem mais, reclama o irrestrito direito praticar o aborto e a eutanásia.

Seguindo o principio marxista de “revolução permanente” e o principio leninista de “revolução ininterrupta” e indicando que o “grande salto não é econômico [...] senão político-cultural” o neosocialismo sentencia explicitamente:
Tempos de cruzada. Sem prazos, a meta é transformar na raiz a mentalidade”.

0 comentários:

Postar um comentário