domingo, 10 de outubro de 2010

Médio Oriente: cristãos numa encruzilhada

Conflitos, desconfiança e crescimento do fundamentalismo ameaçam esta pequena comunidade, convocada simbolicamente para uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos

Alessia GIULIANI/CPP/CIRIC

O eclodir da guerra no Iraque e, sobretudo, o arrastar do conflito entre Israel e a Palestina estão na base do êxodo das comunidades cristãs no Médio Oriente, colocando em causa o futuro do Cristianismo na região.

A questão estará no centro do primeiro Sínodo de Bispos dedicado ao Médio Oriente, que vai decorrer no Vaticano entre 10 e 24 de Outubro, com a presença de 185 participantes, em volta de Bento XVI.

O documento de trabalho entregue pelo próprio Papa aos líderes das Igrejas desta zona geográfica afirma que “a emigração é particularmente prevalente por causa do conflito israelo-palestiniano e a resultante instabilidade em toda a região”.

A persistência de conflitos armados, alerta o Vaticano, tem sido explorada, no Médio Oriente, “pelos elementos mais radicais no terrorismo global”.

O “instrumento de trabalho” do Sínodo sublinha que os conflitos regionais tornam ainda mais frágil a situação dos cristãos, que se encontram também entre as vítimas principais da guerra no Iraque.

“A presente tensão política na região tem uma influência directa nas vidas dos cristãos, tanto como cidadãos como na prática da religião, colocando-se numa situação particularmente delicada e precária”, pode ler-se.

No Líbano, os cristãos estão divididos no plano político e confessional. No Egipto, o crescimento do Islão político e o desempenho, em parte forçado, dos cristãos em relação à sociedade civil expõem as suas vidas a sérias dificuldades.

Na Turquia, o conceito de laicidade cria ainda problemas à plena liberdade religiosa do país. Noutros países, as ditaduras levam a população, inclusivamente os cristãos, a tudo suportar em silêncio para salvar o essencial.

No Oriente, salienta o documento de trabalho, liberdade de religião significa geralmente “liberdade de culto”, ficando excluída daquele conceito a “liberdade de consciência”, isto é, a possibilidade de acreditar ou não acreditar em Deus, de praticar uma religião isoladamente ou em público ou de mudar de convicções religiosas.

Tanto o instrumento de trabalho, de Junho de 2010, como o documento que traçava as linhas gerais do Sínodo, em Dezembro de 2009, colocavam uma mesma questão final, sobre o futuro dos cristãos no Médio Oriente.

Esta “presença bastante reduzida”, referia-se, “é uma consequência da história” e os dados confirmam essa quebra estatística, numa região em que os católicos representam apenas 1,6% da população.

Na Palestina, as comunidades cristãs têm vindo a diminuir nas últimas décadas e nas cidades de Belém e Nazaré, outrora maioritariamente cristãs, essa presença ronda agora os 10-15 % da população.

Na Turquia, a presença cristã passou dos 25% para 0,13% da população, apenas num século. Egipto, Irão, Jordânia, Líbano e Síria são outros locais onde a presença cristã está em declínio, apesar de uma relevância histórica muito significativa.

O documento de trabalho do Sínodo afirma que "demasiadas vezes, as pessoas dos países do Médio Oriente identificam o Cristianismo com o Ocidente", gerando conflitos e desconfiança recírproca.

O Sínodo pode ser definido, genericamente, como uma assembleia consultiva de bispos que representam o episcopado católico, convocados para ajudar o Papa no governo da Igreja, dando o seu próprio conselho.

A sessão especial do Sínodo dos Bispos dedicada ao Médio Oriente é a 24ª desde 1967, somando-se a 12 assembleias gerais ordinárias, duas extraordinárias (1969 e 1985) e outras nove assembleias especiais: duas para a Europa; duas para a África; uma para a Ásia, América e Oceânia; uma para os Países Baixos e outra para o Líbano.

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