sábado, 25 de setembro de 2010

HAWKING E DEUS – ORIGEM DO UNIVERSO

Por: Paul Schweitzer sj - PHD em Matemática pela Universidade de Princeton e professor titular do Departamento de Matemática da PUC-Rio.

Nestes dias foi publicado na Inglaterra o novo e controvertido livro “The grand design” (“O grande desígnio”), do famoso físico Stephen Hawking. Ele afirma que não precisa de Deus para explicar a origem do Universo. Segundo as leis da física quântica, pode acontecer espontaneamente no vazio quântico o big bang que deu origem ao Universo.
Não há dúvida que Hawking é correto na sua interpretação da física contemporânea. Mas não dá uma resposta adequada à pergunta filosófica: por que algo existe, em vez de nada? O vazio quântico, mesmo sem a existência de matéria e energia, já é algo. Satisfaz leis físicas determinadas. Deve-se perguntar por que o vazio tem essas propriedades, por que existem as leis que ele satisfaz. A pergunta fundamental não é respondida, mas se desloca à metafísica, além da física. A física estuda as propriedades da natureza, sem chegar ao que está na origem dessas leis.
Fica a pergunta: “Por que existe o vazio quântico, com as suas propriedades?” Pode-se responder: “Porque simplesmente é assim.” Mas esta resposta não satisfaz a quem busca entender o porquê das coisas. A atitude do cientista, diante de um fenômeno, é buscar uma explicação suficiente, não de aceitar o fenômeno sem mais. Esta atitude fundamental do pesquisador nos leva além das leis físicas. Por que existem tais leis? Por que há uma ordem e regularidade na natureza? Esse fato maravilhoso — que a natureza pode ser entendida pela razão humana, nos avanços científicos ao longo dos séculos — é um reflexo do Criador inteligente. Ele criou as leis da natureza e criou o ser humano na sua imagem, com uma parcela da inteligência do Criador.
Convém lembrar que o físico e padre belga Georges Lemaître, que inventou o conceito do big bang (mas com outro nome, “átomo primevo”), disse que não se deve identificá-lo com a criação do Universo por Deus. Quando soube que o Papa Pio XII iria fazer um discurso para a oitava Assembleia Geral da União Astronômica Internacional em Roma, em 1952, viajou à capital italiana para pedir ao Papa que não apresentasse o big bang como o ato de criação do Universo por Deus. O Papa seguiu a orientação do Pe. Lemaître. O fato de Hawking não reconhecer o big bang como criação por Deus foi antecipado mais de meio século pelo Papa Pio XII.
Quem crê na fé cristã tem razões de outra ordem para a sua fé. A dimensão espiritual da realidade se manifesta na nossa experiência da consciência pessoal, do “eu”. A tradição do encontro com o Cristo vivo depois da sua morte terrível na cruz dá a dimensão histórica da nossa fé. E o cristão que procura viver a fé percebe nela uma sintonia com tudo o que existe e uma orientação para a vida que responde aos anseios mais profundos do seu coração.

0 comentários:

Postar um comentário