sábado, 28 de agosto de 2010

CRIAÇÃO OU EVOLUÇÃO?

por Prof. Felipe Aquino

Hoje há um grande debate, especialmente nos EUA, sobre as hipóteses do criacionismo e do evolucionismo. O Papa Bento XVI convidou alguns especialistas para discutir com ele o assunto em Castelgandolfo no dias 1 a 3 de setembro próximo. Qual a posição da Igreja a respeito disso?

Os criacionistas entendem que Deus fez o homem diretamente como ele é, como narra o Gênesis, e os evolucionistas pensam que o homem veio do “pó das estrelas”, desde o Big Bang até hoje.

O papa João Paulo II disse certa vez que “a teoria da evolução é mais do que uma hipótese”, o que mostra que ele aceitava a evolução nos moldes propostos pela Igreja; não da maneira darwiniana, sem Deus, conduzida pelo acaso. A Igreja aceita a possibilidade da evolução conduzida por Deus, aliás, como muitos físicos modernos estão mostrando. Criação e evolução não se opõem entre si, desde que se admita que Deus criou a matéria inicial, dando-lhe as leis de sua evolução, e cria até hoje toda alma humana, que é espiritual.

A Igreja não interpreta a Bíblia, em especial o Gênesis, ao pé da letra, pois sabe que ele é repleto de simbolismos que querem apenas revelar verdades religiosas e não científicas ou históricas. O texto bíblico não pretende descrever a fenomenologia ou o aspecto científico da origem das criaturas.

Para narrar a criação do homem e da mulher, o autor sagrado utilizou a imagem do Deus-Oleiro, que era comum na época. Por exemplo; no poema babilônico de Gilgamesh conta-se que, para criar Enkidu, a deusa Aruru "plasmou argila". Na lenda assiro-babilônica de Ea e Atar-hasis, a deusa Miami, para criar sete homens e sete mulheres, fez quatorze blocos de argila; com estes, suas auxiliares plasmaram quatorze corpos; a deusa colocou neles traços humanos, configurando-os à sua próprla imagem. No Egito um baixo-relevo em Deir-el-Bahari e outro em Luxor apre¬sentam o deus Cnum modelando sobre a roda de oleiro os corpos res¬pectivamente da rainha Hatshepsout e do Farad Amenofis III; as deusas colocavam sob o nariz de tais bonecos o sinal hieroglífico da vida ank, para que a respirassem e se tornassem seres vivos.

Então, o tema do Deus-Oleiro, na Bíblia, não passa de metáfora. Quer dizer que, como o oleiro está para o barro, assim Deus está para o homem. Não se pode, então, querer tirar daí alguma lição cientifica.

A Bíblia não foi escrita para explicar o dilema "criação ou evolução".
O corpo do homem, sendo matéria, pode ter vindo de matéria viva preexistente; não dos macacos hoje existentes, pois estes já são muito especializados e não evoluem mais; mas poderia ter vindo de um primata ou ancestral do corpo humano. A alma, contudo, não teria origem por evolução, mas por criação direta de Deus; sendo espiritual, ela não provem da matéria em evolução.

Aqui está aquilo que a Igreja não aceita na teoria evolucionista de Darwin, a alma não pode ter sido criada pela evolução da matéria, mas foi criada por Deus. Se houve a evolução, então, em certo momento, quando um ancestral estava já organizado e apto para receber uma alma imortal, Deus criou esta alma e nele colocou, sendo este o primeiro ser humano: Adão (do hebraico=homem). Isto pode ter ocorrido tanto no surgimento do homem como no da mulher. Eva (mãe dos viventes). Não se pode, então, dizer que Adão e Eva não existiram; existiram, foram o primeiro casal de humanos; não é uma fábula ou alegoria: são tão reais quanto o gênero humano é real.

Quanto à matéria inicial, nebulosa, donde terá procedido a evolução (Big Bang), foi criada diretamente por Deus; não é uma matéria eterna, que sempre existiu; só Deus é eterno. Deus deu a ela as leis de sua evolução de modo que dela tiveram origem os minerais, os vegetais e os animais irracionais até o corpo do homem. O homem foi a meta da evolução, como mostra hoje a física.

Alguns perguntam: quantos indivíduos houve na origem do gênero humano? A Igreja não aceita o chamado “polifiletismo” (o homem ter surgido em vários pontos diferentes da terra simultaneamente), pois contraria a fé e as probabili¬dades científicas. O “monofiletismo monogenético” (um casal só) é a clássica tese, aparentemente deduzida da Bíblia.

Mas a Igreja deixa aberta para estudos dos cientistas a hipótese do poligenismo (vários casais de um só tronco), pois é conciliável com a fé. Quando o autor sagrado diz que Deus fez Adam, quer dizer que fez o homem, o ser humano, sem querer especificar o número de indivíduos (um, dois ou mais...). É significativo o texto de Gn 1, 27: "Deus criou o homem (Adam) a sua imagem; a imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou". Neste versículo verifica-se que a palavra Adam não designa um indivíduo, mas a espécie humana diversificada em homem e mulher. O nome "Eva" também não é nome próprio, mas significa em hebraico "mãe dos vivos" (Gn 3, 20).

O que importa, em qualquer caso, é que os primeiros pais (dois ou mais) foram elevados ao estado de santidade e justiça original e que, tentados pelo demônio, submetidos a uma prova, cometeram o pecado original, e assim, não puderam passar aos descendentes os dons preter- naturais (imortalidade, não doença, não ignorância, etc.) que tinham recebido para toda a humanidade.

Quando a ciência tocar a estaca zero da humanidade, poderá dizer se aconteceu o monogenismo ou o poligenismo; não nos preocupemos com isso. A origem das diversa raças e cores pode ser explicada a partir de um das diversas condições de clima, alimentação, trabalho... das populações, e também pelo fenômeno do mutacionismo (mudanças brus¬cas que ocorre em alguns poucos indivíduos).

(Este artigo tem muito a ver com o da Revista: “Pergunte e Responderemos”, de D. Estevão Bettencourt, osb (Nº 469 – Ano 2001 – Pág. 257) a quem agradeço a autorização para usa-lo.) Site: www.osb.org.br; email: lumenchristi@bol.com.br; tel -0XX21-22719122

Prof. Felipe Aquino

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